sábado, 21 de abril de 2018

https://youtu.be/CF6mm9-3BWU

segunda-feira, 9 de abril de 2018

PROVAS - UMA QUESTÃO IMPOSSÍVEL NO CASO LULA

 Cá do meu canto, sentado ou esparramado no sofá diante da TV, eu tenho assistido o grande espetáculo da prisão de um Brasileito que para a maioria dos seus conterrâneos, além da convicção (esta sim, sincera, não aquela do pseudo-procurador da República), é a única esperança de milhões de que a justiça social,  tao almejada desde os primórdios da Nação possa, enfim, se fazer visível a tantos hoje desesperancados até do mais elementar direito da pessoa humana: alimentar-se todos os dias.
Não irei aqui repetir tantas opiniões de que o processo judicial é politico, pois isso está muito mais que maçado nas cabeças de qualquer cidadão minimamente esclarecido nas redes sociais. Não vou afirmar que o Ministério Público na pessoa do seu mais visível representante para assuntos  da Lava-Jato é um poço de vaidades de alguns "meninos" carente de projeção pessoal/profissional; de jeito nenhum vou afirmar que as horas e mais horas nos noticiários televisivos, ou as páginas e mais paginas dos jornais e revistas sobre o assunto servem apenas para seus proprietários escancararem suas necessidades de verbas publicitárias somente auferidas se venderem suas almas às grandes corporações do Mercado - os seus patrões; não vou afirmar que os juizes da causa, eferemamente, querem gozar seus míseros minutos de fama; e nem, jamais, afirmo que os adversários politicos do Brasileiro em questão, em que pesem suas hipocrisias públicas nos meios de comunicacao "lamentando" a prisão humilhante dum ex-Presidente da República, no fundo de suas almas sejem puro gozo. Nada disso eu afirmo.
O que me deixa encabulado cá em minha santa ignorância é que nem eu, nem ninguém conseguiu ver a mais insignificante das provas do crime de que acusam o condenado. O que eu posso afirmar, isso sim com toda a certeza, é que o procurador-mor do caso corroborou com o que aqui eu digo: não tem prova, mas convicção.  E, do alto da minha ignorância jurídica, pelas palavras dele mesmo eu estou autorizado a dizer que ele bufou sua incapacidade de estar à frente do caso, pois convicção não pode ser entendida senão como a VONTADE pessoal dele, nada além disso. E VONTADE/CONVICÇÃO pessoal jamais poderá constituir razão para se tirar a liberdade de outrem, menos ainda em se tratando de alguém da importância do condenado.
Causa ainda mais estranbeza os juizes da causa a olherem a postulacao do MP baseados em delator em flagrante contradicao entre dois depoimentos.
De sorte que se torna imperativo que se modifique as leis. Ou  então iremos continuar assistindo essas aberrações em que a Constituição não passa de meras letras para enganar, porque quando necessária ela cede lugar às vontades e egos das pseudo-autoridades a realizarem suas vaidades ilusórias. Porque no íntimo todos sabemos o que está a acontecer.
E, soberanamente e sem manipulações de resultados - assim espero, iremos todos às urnas em poucos meses.

domingo, 20 de março de 2016

MOCINHO OU...?






No Brasil, nestes tempos de crise, a população tem servido de meras massas de manobras para servir aos egos dos políticos. Todos aqueles que têm saído às ruas, tanto contra quanto a favor do Governo, estão anestesiados em suas capacidades de crítica, agindo como verdadeiros néscios incapazes de discernir a verdadeira verdade (me perdoem o pleonasmo).
De um lado o cidadão da imagem aqui postada, posando de herói nacional, se mostra tão incompetente como Juiz que não consegue se perceber como nada mais que Servidor Útil aos interesses de uma oposição política mergulhada até o pescoço nas mesmas falcatruas de que acusam os governistas. Eu digo isso porque na mesma cumbuca onde estão políticos ligados ao Governo estão também os mesmos que o aplaudem como digno Juiz. Só que os olhos do pobre servidor judiciário parecem vendados. Ou ele é um juiz parcial - coisa inimaginável numa missão das mais dignas como é a sua.
E de outro lado estão líderes governistas, atordoados a justificar o que a tal Lava Jato descobre a cada instante como se estivesse descobrindo a América ou reinventando a roda, já que, se eles não sabem, eu sei muito bem que as raízes da corrupção endêmica no Brasil foram plantadas nas origens do País, e germinou e se alastrou ao longo da História sem nunca ter perdido o poder dos desmandos que agora vêm a tona. E, eu penso cá com meus botões, nós só estamos assistindo tudo o que assistimos porque o Governo atual, além de roubar migalhas - o que não serve para absorvê-lo, mas, ao contrario, é motivo de punição como deve receber qualquer criminoso - foi tão incompetente que se mostrou incapaz de esconder seus desvios de conduta, como fizeram, por exemplo, os responsáveis pelas privatizações de empresas públicas cujo dinheiro amealhado com as vendas jamais foram completamente incorporados aos cofres públicos.
E, a mim me parece, que esse Juiz não está a agir com retidão, senão não precisaria vir a público se justificar, como informa os órgãos de imprensa, de modo particular o portal G1 no dia 5 de março último. Pense comigo: QUE NECESSIDADE TERIA UM JUIZ DE VIR A PÚBLICO JUSTIFICAR SEUS ATOS SE TIVESSE APENAS APLICADO A LEI? As leis, uma vez respeitadas, por si mesmas se justificam, e um Juiz que agisse de acordo com elas jamais precisaria se explicar. É o que, em minha santa ignorância, eu tenho queimado os neurônios para entender.
E daqui uns dias os mesmo cidadãos que hoje gritam Fora PT, poderão ser instados a gritar Fora Moro.

ABRE O OLHO BRASIL!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

       



OS LARÁPIOS - Pequena Amostra.


Desde a sua inauguração, há mais de trinta anos, o estabelecimento sempre foi um dos mais badalados da cidade. É só o sol se pôr que já começam a aparecer os boêmios dispostos a beber e a degustar tudo o que lá é servido. Desde as guloseimas mais banais, como as diminutas porções de filé mignon no espetinho, pastéis e coxinhas, até as pizzas e os pratos mais requintados capazes de satisfazer aos mais exigentes paladares, tudo ali é saboreado. Sem falar nas bebidas – um capítulo à parte –, para atender aos gostos mais extravagantes. Da cachaça rebenta peito aos drinques mais sofisticados, passando pelos vinhos das melhores qualidades e das safras mais apreciadas, não importando a nacionalidade. Nunca deixando de lado o chope e a cerveja, tudo ali é servido para atender à mais eclética das freguesias.
       Num ambiente como aquele, onde se mesclam gente simples aos maiores dignitários da cidade, além das moças de família, e outras nem tanto assim, até crianças são vistas, em flagrante desrespeito às leis protetoras dos menores de idade. Percebendo ser ali um daqueles lugares onde todo gato é pardo até que se prove o contrário, Rubião trata de se enxerir entre aqueles fregueses na tentativa de garantir a própria sobrevivência pelos próximos dois ou três dias.
       Em suas andanças de até hoje à procura de sua maior preciosidade perdida ele sempre ouviu falar de Maringá. Mas nunca imaginou a cidade com toda aquela pujança e ostentação de riqueza, ao menos pelo que ele pôde deduzir numa visão repentina e superficial. Como sempre faz ao chegar num lugar desconhecido, antes de tudo ele andou por praças e avenidas, observando o macro ambiente, os estabelecimentos comerciais, os trajes e os comportamentos das pessoas, os tipos de automóveis a transitar... Além de dispensar atenção especial à Segurança, mais propriamente ao número de policiais nas ruas e à existência de câmeras de vigilância. Depois, ao anoitecer, examinou os hábitos noturnos da população na tentativa de descobrir onde lhe seria possível angariar seus meios de sobrevivência. Anotou os nomes de todas as ruas, praças e avenidas por onde andou – o seu truque mais usado para demonstrar conhecimento da cidade onde estivesse e não se denunciar como forasteiro.
       O último carro usado por ele fora deixado a uns três quilômetros do perímetro urbano, fora da rodovia em meio à plantação, num lugar impossível de ele ser avistado, a menos que o agricultor passasse por lá a cuidar da lavoura. A pé caminhou mais ou menos uma hora, entrando na cidade pela Avenida Morangueira – que depois tem o nome mudado para Avenida São Paulo – até onde ela cruza com a Avenida Brasil, já na parte central da cidade. Andou pela Brasil no entardecer, percorrendo quase toda a sua extensão, até uma de suas muitas praças onde se viu diante duma escultura em bronze de aproximados quatro metros de altura, representando uma pessoa indistinguível quanto ao gênero. Completamente estranha, a imagem chamou-lhe a atenção pela estatura extravagante e a desconcertante magreza, além dos braços erguidos como alguém que tivesse sido surpreendido por um assaltante. Uma figura totalmente diferente de tudo o que se pode esperar dum ser humano comum! Indagando aos transeuntes ficou sabendo o monumento ser chamado de Peladão, por sua estranha pose a representar uma pessoa desprovida de roupas, a não ser um ramo de parreira, cuja inspiração do escultor ninguém soube explicar. Assim ele permaneceu ignorante ao fato de o monumento ser a homenagem aos desbravadores daquelas terras onde há mais de meio século tiveram a coragem de adentrar o sertão para construir a cidade, hoje uma das mais pujantes do país.
       No entanto, mesmo o monumento lhe parecendo tão singular, ele não era o foco principal de Rubião na cidade. Seus objetivos nunca tinham sido conhecer a história dos lugares por andava, muito menos as motivações dum artista para realizar algo tão bizarro àquele ponto. Por isso, a noite já começando a cair, era preciso seguir seus instintos à busca do que era necessário. E ele logo enveredou pela Avenida Curitiba, passando rente a um hospital para descer até aonde ela desemboca na Praça Manoel Ribas – logradouro das noites mais efervescentes, onde se concentram os melhores estabelecimentos noturnos da cidade, para lá escolher aquele onde entrou. A clientela misturava, num mesmo ambiente, respeitáveis senhores com suas esposas, cidadãos com ares de executivos, damas solitárias, jovens e até crianças.
       Para Rubião era imperioso não errar na avaliação. Por isso, antes de escolher em qual “buteco” entrar ele se ateve aos perfis dos frequentadores de cada um deles que eram no mínimo uma meia dúzia a pouca distância uns dos outros. Modelos de carros, vestes das damas e galhardia dos cavalheiros eram critérios infalíveis para a escolha de suas vitimas. E, por aquele critério, logo sua escolha estava definida. Antes, porém, era preciso pensar num meio de fuga, caso seu plano não funcionasse como o esperado. Por bons dez minutos ele esteve a observar os carros estacionados nas ruas próximas, até descobrir um que, além de pertencer a um frequentar do estabelecimento escolhido, pudesse propiciar autenticidade nos imprevistos passíveis de acontecer quando estivesse a fugir. E logo ele apareceu, deixado numa rua transversal não muito distante do bar, a mais ou menos uns cinquenta metros de lá.  Definida a vítima agora era só adentrar o mesmo bar que ela para dar continuidade ao plano.
       “Definitivamente elas são mais abusadas que os homens!” – escandalizou-se ante o vozerio daquelas senhoritas com ares de donzelas suplantando os homens em manifestações nada elegantes. “Depois de duas ou três doses elas perdem de vez a vergonha!” – se abobou ao ouvir os palavrões, a ele mesmo impronunciáveis, vomitados de tão belas bocas.  Evitou o garçom que, cortesmente, já se lhe dirigia a indicar a mesa onde deveria sentar-se. Não pôde aquiescer à gentileza, porque antes de tudo era preciso estudar a vítima, absorvendo todos os gestos por ela praticados a fim de evitar surpresas na hora de agir. Além daquilo, para a fuga ser bem sucedida seria imprescindível ter o caminho aberto sem nenhum obstáculo. Por isso o lugar não podia ser aquele que, sendo ele ali nada mais que um estranho, provavelmente ser-lhe-ia oferecido pelo servente.
       O carro escolhido não lhe causaria nenhuma crise de consciência, pois, o seu dono – homem branco e dono dum corpanzil de fazer inveja – certamente não sentiria tanta falta dele, já que o seu jeito indicava ele ser dono de outros ainda melhores que aquela Hilux de onde desembarcou na companhia da mulher que só podia ser sua esposa e do moleque de seus doze anos, com certeza seu filho.
       Acomodado na mesa ao lado daquela onde estavam suas pretensas vítimas, e percebendo a facilidade proporcionada pelo descuido do cidadão cuja chave do veículo fora deixada à mesa sobre a toalha num ponto onde distraído que parecia ser ele não perceberia a sua subtração, Rubião se permitiu um pouco de relaxamento. Além de tudo, o lugar era o melhor que poderia ter sido escolhido, propiciando-lhe observar grande parte dos acontecimentos à sua volta. Era uma mesa pequena para no máximo duas pessoas, posta bem ao canto donde era possível enxergar a porta de entrada e boa parte da avenida, além de propiciar atenção às mesas mais ocultas na penumbra, capazes de proteger a identidade dos frequentadores, que também serviria a quem desejasse maior intimidade para tratar de negócios que não pudessem ser do conhecimento de estranhos aos envolvidos naqueles assuntos.
       O ambiente era grandemente agitado. Lá estavam moças e rapazes esportivamente vestidos, homens de bermuda e chinelo, mulheres elegantes, até fidalgos trajados à caráter. E apesar da proibição ao fumo em lugares fechados, era bem visível a nuvem de fumaça a levitar, iluminada pelos fachos de luz a descer dos abajures que projetavam claridade direcional sobre as mesas.
       O burburinho era dos mais consideráveis, cada um procurando ser ouvido da forma mais clara possível, não importando que para isso fosse preciso suplantar as outras vozes que também se elevavam às alturas para serem compreendidas. O resultado era aquela balburdia beirando à loucura, onde para ser entendido elevava-se cada vez mais o tom, até o ponto em que o ambiente se tornasse idêntico a uma feira livre onde os mercadores gritassem a plenos pulmões para desovar suas mercadorias. E ainda havia a música ao vivo que os artistas executavam em elevados decibéis, contribuindo ainda mais para que o ambiente fervilhasse para muito além da razoabilidade.
      Antes de deglutir o primeiro gole da cachaça mais em conta que viu no cardápio, Rubião deteve a mão com o copo a meia distância entre a mesa e sua boca, permanecendo estático naquela posição ridícula por alguns instantes. Até que, não querendo chamar tanto a atenção, engoliu de uma só vez a pinga, para novamente se ater àquilo que lhe soou como a mais nítida loucura da própria cabeça. Aquela cara lhe era muito familiar, embora, sendo ali a sua primeira vez naquela cidade, aquilo lhe soasse como o maior dos impossíveis. Se fosse verdade a sua desconfiança, aquela seria a mais improvável das coincidências, já que ele nunca tinha sido homem de convivências tão sofisticadas como lhe pareceu ser a daquele sujeito que seus olhos viam, nem jamais ele poderia ter se envolvido com um fidalgo daquele porte, apesar de o desleixo pessoal representado pela barba há alguns dias sem fazer e o abdome avantajado contribuir mais ainda para que o homem lembrasse alguém conhecido. Aquela cara só podia ser muito semelhante à de alguém que ele já vira, nada mais que uma figura idêntica a alguma que ele tivesse conhecido – embora, para manter qualquer contato com ele, tal pessoa nunca pudesse se vestir com tanto esmero.
       Aquela figura o encasquetou até à indiscrição de não conseguir desviar dela o olhar, quase a chamar a atenção das pessoas que lá estavam à mesa com ele. Dentre aqueles convivas estava uma guria de seus vinte e tantos anos, com jeito espoleta, além de se mostrar bem relacionada com todos os frequentadores daquela ala reservada do bar. Perambulava de mesa em mesa, se entretendo com muitos daqueles fregueses; em seguida voltava à sua mesa, aonde aquele sujeito parecido com alguém que Rubião conhecia permanecia em infindáveis assuntos com outro sujeito aparentando ser da mesma estirpe que a dele.
       Tanta exposição acabou deixando a moça em evidência aos olhos de Rubião, que já não dava a mesma importância ao sujeito de físico desleixado, apesar de bem vestido, que só podia ser o pai dela. Agora ele se ocupava das coisas que a via fazer. E para sua sorte – ou sua desgraça! – a moça fez algo totalmente descabido entre pessoas da mesma marca que a dela: sutilmente passou a mão na carteira que um daqueles fidalgos tinha deixado sobre a mesa. O homem – velho já duns setenta anos – continuou seu prolongado bate-papo com a mulher que tudo indicava fosse a sua velha e outros dois cidadãos com quem o assunto parecia ser dos mais importantes. Ele também deveria conhecer bem a moleca que lhe surripiara a carteira, pois, jamais deveria imaginar que ela fosse capaz de roubá-lo. Sendo possivelmente amiga dele, teve todo o tempo que precisou para retirar da carteira algumas cédulas, escolher umas poucas dentre elas, inclusive algumas moedas, e novamente devolver a carteira onde ela estava. Tudo feito com tanta habilidade que ninguém desconfiou do que ela fez!
       Vendo o que ela fez, Rubião logo se desligou de sua vítima anteriormente escolhida, do sujeito desleixado com a pretensão de ser elegante que pensou ser seu conhecido – de quem a moleca deveria ser filha –, do velho que ela acabara de roubar e de todos os demais que estavam à volta. Agora não perdia a garota de vista, apenas aguardando o momento certo para abordá-la e, com sorte, obter dela o máximo de vantagens que pudesse. Afinal, o que ela tinha feito era a coisa mais improvável entre pessoas da mesma marca dela!
       E a oportunidade logo surgiu, quando a viu se afastar mais uma vez de sua mesa, agora rumando à toalete. Adepto do adágio que diz uma oportunidade ser um cavalo encilhado que nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar, antes de se postar à entrada do banheiro para abordá-la sem que ela pudesse dar o alarde do que aconteceria, num lance de pura sutileza, como quem apenas transitasse por ali, esbarrou a mão sobre a mesa para levar a chave do carro da vitima anteriormente escolhida sem que o homem de nada desconfiasse.
       Logo à saída do toalete a pobre moça se surpreendeu com aquele desconhecido a fita-la num semblante ao mesmo convidativo e ameaçador. Tamanha demonstração de veemência não permitiu a ela se esquivar daquele olhar intimidador, pois, certamente aquele sujeito tinha visto o que ela acabara de fazer. E, antes de ela readquirir o autocontrole a surpresa a fez titubear, mesmo lá em sua cabeça os pensamentos insistindo ela não poder permitir àquele desconhecido colocar em risco o seu hábito pervertido que tanta satisfação lhe proporcionava.
       Apesar das constantes acusações de sua própria consciência, seus pequenos furtos sempre tiveram o mérito de proporcionar aquela mesma satisfação, típica dos cleptomaníacos, que agora ela sentia. Mesmo depois da abordagem daquele estranho, ela ainda se rejubilava por mais uma vez ter conseguido ser mais esperta que alguém, ainda que a vítima não passasse dum velho rico e pretensioso, a quem a importância subtraída nunca faria falta alguma.
       Entretanto, agora a situação começava a desandar. Aquele desconhecido, que certamente seria um delegado ou detetive de policia que ela ainda não conhecia, estaria ciente do seu furto praticado há pouco. Então, nem o seu pai, com toda a influência que exercia sobre a Polícia, seria capaz de livrá-la do flagrante. De sorte que a única coisa a lhe parecer sensata naquele momento era aquiescer à intimação e, quiçá, ela pudesse também engabelar aquele sujeito conhecedor da sua falta.
       Ele, bom conhecedor dos dramas de consciência de quem acabasse de cometer um delito como aquele, nem considerou a possibilidade de ela insistir na reação que, em principio tentou esboçar. E não foi difícil intimá-la a segui-lo a certa distância até à porta da rua, antes chamando ao garçom para pagar a cachaça que tinha ingerido.
     – Voce é policial? – Ela facilitou sobremaneira as coisas para ele. Com aquela deixa se lhe escancarou a oportunidade de obter dela o que bem quisesse!
     – Delegado Malvino – ciente de ela estar de guarda totalmente arriada, logo improvisou.
     – E o que voce quer de mim? – Mal conseguindo abafar a voz, numa demonstração de total descontrole, ela facilitou ainda mais as coisas para ele.
     – Em primeiro lugar quero que voce fique tranquila – ele cochichou-lhe aos ouvidos. – Não será bom os teus amigos saber o que voce fez, não é verdade?
     – Eu não fiz nada! – Caindo na armação criada por ele, cochichando ela tentou se defender.
     – Ah, fez! Voce e eu sabemos muito bem o que voce fez. Por isso é bom me seguir sem questionar, senão todos aqui vão saber que voce é uma ladra!
       Ciente de aquele policial ter visto o que ela tinha feito, a moça desandou a tremer, quase não conseguindo manter-se em pé, pois, de repente as pernas pareciam não suportar o peso do corpo; seu coração perdeu o compasso, o fôlego começou a lhe faltar e a voz insistia em não sair. Sua capacidade de raciocínio tornou-se deficitária ao ponto de ela não conseguir pensar em nada que justificasse aquele furto, como sempre acontecia quando alguém descobria outros que ela tivesse praticado – algo tão corriqueiro em sua vida, que jamais tinha lhe criado o menor constrangimento –, apesar de altamente motivadores. Afinal, sua vítima daquela noite era um dos homens mais ricos da cidade, para quem a quantia furtada não passaria de mera ninharia que ele jamais perceberia ter-lhe sido subtraída. Mesmo assim, ninguém, além daquele delegado enxerido, podia saber o que ela tinha feito.
       Acompanhando-o pela avenida mal iluminada por causa das sombras projetadas pelo arvoredo lá abundante, ela deu graças ao passar perto de onde estava Petruchio – fiel guardião, sempre nas proximidades de onde seu pai estivesse, como se do velho fosse a sombra. Apesar de avançado em anos, o segurança tinha fama de ser muito astuto, e ninguém sabia da sua excepcionalidade, pois, demonstrando uma argúcia acima da média, a ele nunca tinha sido difícil convencer que sua particularidade intelectual nada mais fosse que acentuada perspicácia. E, fazendo jus à fama, logo o cão fiel desconfiou que algo errado estaria acontecendo, pois, não era comum a moça abandonar tão acintosamente o pai para ir com um namorado a lugares tão desaconselháveis. Por isso, esforçando pela discrição, Petruchio seguiu-os com o olhar até que começassem desaparecer na penumbra, subindo pela Avenida Rio Branco para onde estava a caminhonete escolhida por Rubião para a fuga.
       Então, considerando improvável que o seu patrão pudesse gostar do que estaria acontecendo, Petruchio deu-se a perseguir os dois, em principio devagar. Mas, na medida em que os via cada vez mais distante, começou correr na tentativa de alcança-los para averiguar o que de fato estaria acontecendo. Percebendo o vulto que vinha atrás, a moça tinha certeza de tratar-se do segurança de seu pai. E não querendo que ninguém de sua convivência soubesse o que tinha feito, mesmo sem saber para onde o delegado a estaria levando para interrogatório, começou também a correr, obrigando Rubião a segui-la para não perder a presa, embora sem saber o que era que tinha dado nela para agir daquele jeito tão improvável.
       “Diabos! Parece que hoje eu me dei foi bem com essa doida” – vendo-a cada vez mais veloz, fugindo ele não sabia de quê, Rubião desconfiou que estivesse se metendo numa enrascada. Embora sem demonstrar convencimento acerca do que fazia, a garota o arrastava numa pressa capaz de fazê-lo desconfiado de suas prováveis intenções. Afinal, se alguém lá carecia de urgência aquele só podia ser ele mesmo, o único interessado em fugir o mais rápido que pudesse daquele lugar. Mas, estranhamente, era ela quem tomava aquela iniciativa!
       E o estranho jeito de ser daquela garota não se limitava à pressa sem saber aonde ir. Passando por uma boutique, mesmo correndo, ela freou seus passos diante da vitrine para observar sua própria imagem refletida no vidro, demorando alguns instantes a passar a mão pelos cabelos e a se virar numa olhadela à sua própria figura – principalmente o quadril – como quem quisesse se certificar de que tudo em seu corpo estava em ordem. Depois prosseguiu a puxá-lo sem saber para onde.
       Agora Rubião já sabia não ter sido mesmo boa ideia se meter com aquele ser que se lhe mostrava completamente inadequado nos modos de agir. Arrastado por ela, a se mostrar dona de uma pressa misteriosa a confundir sua cabeça, ele não enfrentou dificuldades para fazê-la mudar o rumo da corrida para a rua transversal onde estava o carro que ele escolhera para a fuga.
       Parecendo adivinhar o que ele tinha em mente, ela não ofereceu a menor resistência em embarcar na caminhonete assim que o viu acionar o destravamento das portas. Depois, vendo-a demonstrar pressa em sair dali, ele nem desconfiou das causas daquela urgência em evadir-se num avexamento em que ela mesma quase acionou a partida, além de permanecer impaciente com a demorada manobra dele para deixar o estacionamento.

       “Foi por pouco!” – ouviu-a resmungar, como se não quisesse ser ouvida, para que ele não se inteirasse dos seus motivos para fugir dalguma coisa a ele desconhecida. Porém, sendo o momento de extrema tensão, ele foi incapaz de atentar aos verdadeiros motivos da pressa com que, mais que ele, ela tentava sumir daquele lugar. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

BONS LIVROS, BOAS LEITURAS II

A facilidade de Salvatini da Silva discorrer, em RECORDAÇÕES DO ÉDEN, a trama sobre a vida dos personagens, nos entusiasma a leitura desta obra. Se você ler como eu a li, tenho certeza que não sentirá o tempo passar, pois, estará tão envolvido com a história que o tempo parecerá ter parado, não conseguirá desprender os olhos.
Existe em Salvatini a vida nostálgica e o drama conflituoso que são administrados de forma inteligente no dia a dia e com altivez, o que parece não ter fim, tanta inspiração vai aflorando da alma e produzindo aquela sensação de alegria no leitor.
Os personagens aventuram-se nas encostas e caminhos e colinas cobertas por belas árvores e campos verdes, com linguajar corriqueiro dos homens interioranos, o que impressiona e cativa.
O drama, encarnado nas letras, desliza suavemente, como barco de papel em águas cristalinas.
Salvatini é prático e explora a natureza de modo sem igual, e suas ideias circundam num mundo mergulhado na nostalgia de onde busca as raízes humanas para desenvolver o entrelaçamento entre os personagens.
No momento inicial da leitura desta obra você aporta, como se fosse num café matinal, envolvido com todas as tarefas domésticas, naquelas horas vazias de um despertar tranquilo, silencioso, contemplando a relva sob o orvalho e a luz do sol ainda infante pincelando a natureza, sob uma orquestra viva e sincronizada pelas músicas dos pássaros e animais, distante, lá num passado.
Esta obra será, decerto, útil para incentivar a criatividade do leitor.
Que o livro seja realmente instrumento para aqueles que gostam de aventuras literárias.

Odair Mario Bordini
Advogado

BONS LIVROS, BOAS LEITURAS

A vida humana só vale a pena quando o
indivíduo caminha na direção do
semelhante de forma abnegada e altruísta,
nunca esperando reciprocidade ao bem
que proporcionar.
No mundo atual, apesar das disputas
entre os indivíduos na busca do melhor
lugar ao sol, da subida desenfreada aos
patamares mais elevados da pirâmide
social, ainda subsistem pessoas que
remam contra a forte maré do egoísmo que
grassa em praticamente todos os
relacionamentos humanos.
Uma dessas pessoas é a principal
protagonista desta obra. Sua obediência
aos preceitos evangélicos não tem limites;
jamais ela passa por um desvalido sem
atentar para a sua fragilidade diante das
indiferenças que o vitima. É como se os
mendigos, moradores de rua, andarilhos
tivessem um ímã a atrair seu olhar
complacente. E não apenas os
necessitados de bens materiais, mas
também aqueles que apesar de abastados
são carentes de paz e de amor, sempre
encontram guarida em seu grande
coração.
Peregrinando por vários rincões brasileiros
ela arrastou sua família a realizar boas
obras em todos os lugares por onde
passaram. Suas aventuras com lances
dramáticos em certos pontos, e cômicos
em outras passagens, levarão o leitor a se
deliciar com a singeleza da narrativa, além
de servir de estímulo àqueles dotados dos
mesmos sentimentos que ainda não
despertaram para as possibilidades de pôr
em prática suas pretensões.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

DE VOLTA AO MUNDO DA LITERATURA











Abaixo alguns fragmentos da obra literária "Recordações do Éden", do autor Salvatini da Silva, lançamento recente da Editora Deuses, disponível para aquisição direta da editora em www.editoradeuses.com.br, ou em várias livrarias/sites especializados.

"Na vida sempre existe uma primeira vez. E eu, naquele primeiro beijo da minha, experimentei medo, desproteção, arrepios, pudor, volúpia, receio de mostrar a ele toda a minha inexperiência... Uma gama tão grande e variada de sentimentos que nem fui capaz de discernir se tinha ou não gostado.


Porém, agora a iniciativa era toda minha. Eu agi tão diferente de como tinha sido até aquele dia! E penso até que o trauma causado por Isaac e seu comparsa agora ficava definitivamente esquecido, pois, sem pensar em mais nada eu lhe ofereci minha boca para o segundo beijo, não dando a mínima ao que ele pudesse pensar daquele meu atirar ao prazer.


Depois veio o arrependimento, acompanhado duma vergonha indescritível, quando no outro dia eu me lembrei daquele desembaraço de que tinha sido capaz. Mas aí já era tarde. Um desejo devastador de tê-lo o mais próximo possível de mim já me dominava. E a vergonha perdia espaço para o sentimento que eu ainda não sabia o que era, mas hoje sei que só podia ser ela: a paixão.

Aquela noite, como seria de imaginar, não terminou nos beijos e abraços sob o luar. Quando, enfim, eu fui capaz de me afastar para o quarto, por bons dez minutos ele permaneceu lá. Eu penso que a sua cabeça também fervia na tentativa de explicar o que estaria acontecendo, pois, também a ele aquilo deveria ser inusitado.


E aconteceu que eu não pude evitar o que estava predestinado para aquele dia. Ele não dormiu em seu colchão estendido na cozinha, como vinha fazendo desde que eu me abrigara em sua casa. Entrou no quarto e, sem que eu o recusasse, deitou ao meu lado em decúbito dorsal, como quem apenas quisesse conversar. Ficou lá tentando me fazer acreditar que nada quisesse em especial, puxando assuntos que – ele pensaria – pudessem me interessar. 
Sem coragem para expulsá-lo da minha cama, meu coração começou a pular tão violentamente que, com certeza, ele percebia o meu descontrole. E quando dei por mim eu já estava novamente aninhada em seus braços, agora experimentando mais medo que qualquer outro sentimento.


Você não duvide do que vou dizer: sendo uma moça de meus vinte e sete anos, àquela altura da vida eu não devia mais ser virgem. Mas eu era! Nunca na vida eu tinha visto os homens como o que eles realmente eram. Quando via os rapazes se desmanchando em verdadeiras macaquices para serem descobertos pelas garotas, cá comigo mesma eu me divertia. Eles realizavam os gestos mais engraçados para serem percebidos como alguém atraente, inclusive por mim. Eu os via tão tolos que achava impossível adivinhar o que se passaria em suas cabeças para fazer tanta bizarrice. Mesmo eles tentando disfarçar, aquilo que faziam era bem perceptível e muito engraçado.

Eu os percebia tão estranhos porque ainda não tinha provado do veneno capaz de contaminar até a alma. Mas, naquela noite, a minha visão acerca daquele assunto mudou definitivamente. Ali naquele casebre que eu já considerava a minha casa, pela primeira vez eu experimentei essa coisa que hoje já não me atrai tanto, mas que é capaz de levar uma pessoa à loucura completa. Vendo Francisco ali ao meu lado na cama, daquele jeito tão descontraído em que jamais sonhara vê-lo, eu me deixei levar pelas circunstâncias, mesmo precisando exorcizar o medo arrepiante do que considerava inevitável.

Acabei me enfiando embaixo do cobertor, fino era verdade, mas capaz de aumentar consideravelmente a temperatura do corpo. Afinal, estávamos em outubro, mês em que por aqui é muito mais verão que primavera. Ainda que inconsciente, tanto para mim quanto para ele, aquele gesto era a minha deixa para ele se aproveitar da situação.

E ele não perdeu tempo: meteu-se também sob o cobertor e foi se achegando mais, numa demonstração de coragem que até aquele momento eu não sabia de que ele fosse capaz. Deslizava as mãos sobre o meu corpo, deixando-me desconcertada e vergonhosa. Invadida pela primeira vez em minha intimidade eu experimentava um cruel antagonismo em que a vergonha competia com o desejo de que não cessassem aqueles carinhos, nem o hálito morno a perpassar a minha nuca, criando aquela situação de arrepio. Nem que parassem as carícias no meu busto ou o peso massacrante do seu corpo quando ele se jogava sobre mim dando a impressão de querer impressionar pela ousadia..."





sábado, 14 de fevereiro de 2009

RÉPLICA AO BISPO





Aqui estão alguns fragmentos da obra que pretende fazer uma análise/constestações das mentiras constantes no livro "O Bispo - A História revelada de Edir Macedo". Para lê-lo na íntegra é preciso acessar o site www.freitasbastos.com
 
 
S U M Á R I O


I - INTRODUÇÃO

II - DEUS ADMITE O ABORTO?

III - E A FAMÍLIA?

IV - O LIVRO PASSO A PASSO

V - PRISÃO INJUSTA?

VI - O “PASSO A PASSO” COMPLICA!

VII - MAIS EQUÍVOCOS

VIII - NASCE UMA NOVA “IGREJA”

IX - ADMINISTRANDO O “IMPÉRIO”

X - DIVIDIR PARA MULTIPLICAR

XI - ENSINANDO A FÉ ÀS MULTIDÕES

XII - BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS

XIII - ATINGINDO A META

XIV - AGINDO COMO DAVI

XV - LEGALIZANDO A ILEGALIDADE CRISTÃ

XVI - RATIFICANDO NOSSO PENSAMENTO

XVII - ESCANCARANDO A PERSONALIDADE

XVIII-CONTROVÉRSIAS QUE INTRIGAM

XIX - CHOVENDO NO MOLHADO

XX - NENHUMA PALAVRA!

XXI - JULGAMENTO FINAL


I – INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende fazer a análise da conduta de uma dessas “igrejas” que, pelo que se conhece de suas práticas, se assemelha aos milhares de outras que trilham o mesmo caminho, produzindo muito ruído e sensacionalismo, num esforço quase sobrenatural para tornarem-se visíveis numa sociedade cada vez mais carente de Deus. Só que, infelizmente, elas cometem graves erros de doutrina; e ensinam a seus seguidores esses mesmos erros, produzindo um círculo vicioso difícil de ser contido.
Há algum tempo tive a oportunidade de ler o livro “Ramsés” cujo autor francês, Christian Jacq, atribui a si próprio o título de Ramsés, tal a admiração que nutre pelo personagem histórico – um dos maiores faraós do antigo Egito. Alguns amigos que tinham também lido a obra comentavam-na comigo, dizendo-se frustrados com a Bíblia, porque no livro do Êxodo a narrativa dá conta das derrotas impostas ao faraó por Moisés: as dez pragas, a derrota no mar vermelho, a fuga de todos os israelitas com os despojos dos egípcios... Agora aparece um “livro de história”, de um autor que merece crédito porque pesquisou “profundamente” todos os acontecimentos daquela época, para quem Moisés não passou de um personagem obscuro; um lunático; alguém supersticioso; desprezível; um derrotado que escolheu abandonar o fausto da corte do faraó para refugiar-se no deserto onde só encontrou privações. Nada de liderar o povo rumo à terra prometida. Nem a menção da partida dos israelitas aparece no livro.
“Esse autor merece crédito, porque se baseia em observações científicas, ele próprio um arqueólogo a efetuar escavações in loco” diziam-me.
Na obra os feitos de Ramsés são descritos com admiração. O herói é o mais bem dotado em sabedoria, o mais formoso dos homens de sua época, um semi-deus. Minha atitude diante desses amigos era argumentar que um autor que admira tanto um personagem só pode entusiasmar-se ao relatar seus aspectos positivos. Os pontos negativos (se é que existem!) são, propositadamente, ignorados para que o herói não tenha o seu brilho ofuscado. De sorte que somos obrigados a engolir a ficção como verdade, a imaginação como realidade, levando muitos desavisados a mudar de opinião sobre fatos relevantes até então cristalizadas no consciente como verdadeiros.


E hoje terminei a leitura de
“O Bispo – A História Revelada de Edir Macedo, uma co-autoria de Douglas Tavolaro e Christina Lemos, publicação da Larousse do Brasil Participações Ltda.
Diferentemente do que ocorreu com o autor de “Ramsés”, acredito que os autores dessa reportagem biográfica, por dever de ofício, foram levados a relatar fatos e a transitar por temas cujas opiniões pessoais são divergentes. Mas por profissionalismo, e atendendo ao pedido do empregador, elaboraram o trabalho que passo a analisar nas páginas seguintes à luz das Sagradas Escrituras.
Minha missão, nesse caso, torna-se espinhosa porque é extremamente difícil discorrer sobre a obra sem fazer referências à pessoa do autor, por mais que se esforce para isso. É bom enfatizar desde o início que não os conheço pessoalmente, embora quase todos os dias a veja nos telejornais da emissora de propriedade do biografado. Admiro o seu trabalho como repórter, pois é uma das melhores do país. Quanto a ele, a missão é ainda mais difícil, uma vez que não vejo nem sua figura na TV, pois atua nos bastidores. Mas, dizem os entendidos, pela obra se conhece o autor, e é isso o que me conforta.
Falando em dificuldade de julgamento, já antevejo o quanto de imparcialidade vou precisar para não cair na tentação de julgar a pessoa do biografado, uma vez que meu único objetivo é tratar única e tão somente de suas opiniões, das idéias que fez constar no livro e que, portanto, já são de domínio público, até porque também não o conheço pessoalmente. Apenas o vejo em seus programas de televisão. Como cristão meu objetivo é demonstrar seus equívocos e constatar seus acertos – raros, mas existentes –, uma vez que, dizendo-se também cristão, ele é líder espiritual de uma multidão de fiéis.
Então, vamos à obra.

                                                                               ( ... )

 
II - DEUS ADMITE O ABORTO?

Logo de início vejo a necessidade de considerar o que disse o nosso personagem, nas páginas 223/224 do livro de que estamos tratando, em relação ao aborto:
_ “Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é”.
E leu aos autores do livro o trecho do Eclesiastes, capítulo 6 – versículo 3:

“Mesmo que tivesse tido cem filhos e vivido muitos anos, se não encontrou satisfação nos bens que possuía e nem mesmo tivesse um túmulo, garanto que um aborto é mais feliz do que ele”.

Antes de tudo é preciso lembrar que o aborto é quase um tabu na Bíblia. Além da passagem acima – lida pelo pregador – existem outras poucas referências explícitas, como exemplo o livro de Jó, capitulo 3 - versículo 16; Salmo 58 - versículo 9; Êxodo capítulo 23 - versículo 26. De sorte que as opiniões sobre esse assunto, devem se pautar pelo discernimento natural, em vista do todo que está contido nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, devemos lembrar que Jesus disse: “eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”.
Considerar que a Bíblia é favorável ao aborto baseado no trecho do Eclesiastes acima demonstra incapacidade de interpretação e pobreza intelectual, sugerindo que a pessoa que assim o interpreta, se iniciado no estudo das sagradas escrituras, transita entre a ingenuidade e a má fé.
Aquele texto até admite a existência do aborto, mas como uma grande desgraça. O homem infeliz ao extremo, para quem não há mais esperanças, estaria melhor se tivesse sido abortado.
Do mesmo modo, as demais menções encontradas na Bíblia se referem ao aborto como a uma desgraça. Logo, a Bíblia não é favorável ao aborto; aquela opinião não é mais que um devaneio de quem assim se posicionou.
Mesmo considerando que esse pequeno fragmento do Eclesiastes foi extraído de um contexto mais abrangente, não é possível aceitar o argumento de recomendação ao aborto. Se não vejamos o que está escrito logo a seguir, e que foi omitido na leitura que fez o biografado – nos versículos 4 e 5 do mesmo capítulo 6:

“De fato, o aborto veio inutilmente e se foi para as trevas, e as trevas sepultaram o seu nome. Não viu o sol nem o conheceu, mas a sua sorte é sempre melhor do que a deste homem”.

Fica claro no texto que a situação do abortado é melhor, porque não chegou nem a nascer e, portanto, não sofre as mesmas agruras do homem infeliz, já que este as sofrerá até o final de sua existência. São duas situações extremamente dolorosas e indesejáveis, mas o abortado, ainda que em sua condição, pode considerar-se privilegiado.
Grande absurdo é dizer que as Sagradas Escrituras consideram o aborto uma coisa boa. Não podemos perder de vista que toda a Bíblia é um hino de louvor à vida, não à morte. Como exemplo, vejamos o que está escrito no livro do Êxodo:
“Prestarás culto ao Senhor, teu Deus, que abençoará teu pão e tua água, e te preservarei da enfermidade. Não haverá em tua terra nem mulher que aborta nem mulher estéril. Completarei o número de teus dias”. (livro do Êxodo, capítulo 23 – versículos 25 e 26).

Portanto, também neste trecho do livro do Êxodo, as promessas de bonança, alegria e prosperidade excluem a existência do aborto. O homem que obedecer aos mandamentos do Criador e lhe prestar culto, tornando-se seu eleito, não conhecerá o aborto. Também ali a tese do nosso pregador do evangelho não encontra amparo, mesmo se tratando de aborto espontâneo, sem a ação do homem.
Motivo de preocupação é que, se ele engana-se assim ao interpretar o que está na Bíblia, os milhares de seguidores de sua doutrina também irão pensar assim e, pior, irão praticar assassinatos de seres humanos que ainda não vieram à luz. (Assassinato, porque é, a meu ver, a palavra mais apropriada ao ato de tirar a vida de alguém – caso do aborto).
A tragédia adquire maiores proporções porque irão assassinar acreditando que estarão fazendo a vontade de Deus manifestada na Bíblia.
Recentemente, com grande pompa e na presença do próprio presidente da República, foi inaugurada a emissora de televisão de sinal aberto que apresenta noticiários em tempo integral – propriedade do nosso personagem. Uma iniciativa digna de louvor pela proposta inovadora de programação.
Só que alguns dias após a inauguração, eu me decepcionei ao assistir um comercial naquela mesma emissora, onde uma jovem mulher muito bonita começava dizendo que tinha conquistado vários direitos, dentre os quais eu destaco o de votar, trabalhar fora de casa e dispor do seu corpo para o que desejar e da forma que considerar mais adequada. E dispondo do próprio corpo a seu bel prazer dizia que tinha o direito de abortar. Só não disse que o filho que, porventura, estivesse em seu ventre teria a vida e o direito de nascer. Ela se esqueceu de dizer que o corpo é seu, mas a vida seria de outrem. Patrocinava esse anúncio a rede de televisão de propriedade do nosso personagem e a sua igreja, que o assinavam colocando as logomarcas. Nada de mais se fossem empresas quaisquer emitindo suas opiniões. Afinal, vivemos num regime democrático, onde é livre a manifestação do pensamento.
O que incomoda é que essas organizações são estigmatizadas como cristãs,
pois seu controlador, notoriamente, alcançou projeção social como pregador do Evangelho. Quando alguém se refere a ele diz: “o dono da rede de televisão”. Foi assim que se referiu a vendedora da livraria onde adquiri o seu livro. Daí a emissora se confunde com a igreja e a igreja se confunde com a emissora. As pessoas não conseguem divorciar uma da outra, nem o seu dono de ambas.
Como cristão sinto-me extremamente desconfortável e considero as opiniões manifestadas no livro uma agressão, pois são apresentadas como doutrina de uma igreja que se professa, também, cristã.
Consideremos algumas das frases da página 224 do livro atribuídas ao personagem:
... “Nossos governantes deveriam se empenhar para isso e não se curvar diante da pressão de alguns segmentos religiosos” (podemos ler Igreja Católica); “Certamente, grande parte de nossas mazelas sociais diminuiria”; (...) “O número de meninas solteiras de 12, 13 anos dando à luz não pára de crescer”; (...) “Qual a estrutura que um garoto de 14, 15 tem para ser pai? O que uma garota que mal entrou na adolescência tem para ser mãe”; (...) “A mulher precisa ter o direito de escolher”; e o mais triste: “Eu creio na Bíblia”.

Certamente ele não se referiu à Bíblia Sagrada, aquela adotada por todas as denominações cristãs. Ela está repleta de preceitos sobre a castidade, o que deveria ser ensinado principalmente aos adolescentes, por motivos óbvios. No livro do Gênese consta uma ordem do Altíssimo: “Crescei e multiplicai-vos”, o que não quer dizer sair por aí praticando sexo inconsequentemente, gerando novas vidas, para em seguida destruí-las sob o argumento de que não foram desejadas. Isso é irresponsabilidade e crime. Não foi essa a ordem do Criador.
Ademais, não é necessário que alguém seja religioso para considerar que gravidez indesejada é consequência de um ato ilícito. E traz consequências desastrosas em qualquer situação. Em todas as circunstâncias é salutar e recomendável que as meninas e as mulheres solteiras ou separadas não engravidem. Mas as palavras do líder daquela igreja deixam transparecer que o ensinamento lá é que não há nada de mais em se cair nas tentações da depravação, fazendo corar de vergonha até os habitantes de Sodoma e Gomorra - se possível fosse; e depois? Depois nem tudo estará perdido, pois é só abortar! Cometer homicídios de inocentes que não têm a menor chance de defesa, primeiro porque são ainda “projetos” de vida; segundo porque são assassinados pelas pessoas que geraram suas vidas, tornando-se co-criadoras juntamente com Deus, e deveriam defendê-los até as últimas conseqüências.
Não estamos nem imaginando que a permissão para abortar seja extensiva aos pais e mães de família (os casados), pois acreditamos não haver tamanha insanidade naqueles que, mesmo às suas próprias maneiras, pregam o evangelho de Jesus Cristo. E pode ser que não atentaram para o problema, mas as palavras
publicadas na forma acima, como sendo pronunciadas pelo líder religioso, incentivam homicídios em série, porque o aborto é mais comum entre as mulheres que não deveriam engravidar – adolescentes e solteiras ou separadas. E, infelizmente, elas raramente ficam na primeira gravidez.
Mas, pelo que estamos constatando nas palavras do líder, é crível pensar que na igreja liderada por ele considera-se perda de tempo falar e doutrinar as pessoas com ensinamentos tão “obsoletos”, completamente fora da realidade do mundo atual. Afinal, a modernidade está aí a exigir soluções rápidas, fáceis de serem entendidas e praticadas. Daí seus pastores têm caído na tentação de reproduzir a mesma conduta que deveriam reprovar como líderes de uma igreja que professa seguir os ensinamentos de Jesus.
Pelo que pudemos constatar na leitura daquela biografia é possível apreender que a “teologia” da prosperidade apresenta-se fácil de praticar. Para utilizar um termo da moda poderíamos dizer que é muito
ligth em matéria de doutrina. Não é necessário sobrecarregar os fiéis com ensinamentos pesados e difíceis de assimilar. Isso levaria muito tempo, gerações inteiras passariam até que os resultados começassem a aparecer. Muito mais fácil e prático é moldar-se às coisas que o século presente ensina e, se possível, enganar aos desatentos, vestindo com roupagem divina ao que há de mais repugnante no ser humano. Aí, mesmo que não se perceba, está se realizando o projeto do anticristo.
Ao que temos visto nas pregações televisivas, podemos interpretar que a outra faceta dessa “teologia” – a sua principal característica – é convencer que, sendo Deus rico e poderoso, seus filhos também devem lutar para serem ricos e poderosos. Nada muito além disso. Só que esse é o grande engano a que os seguidores dessa doutrina são arrastados.
É impossível aceitar que alguém dizendo professar a mesma fé que a minha, portanto, alguém que diz possuir a mesma “identidade” que eu, cometa equívocos como os aqui tratados e todos os demais cristãos permaneçam indiferentes como se essa conduta fosse comum a todos nós. E acho proveitoso alertar aos pregadores daquela igreja sobre os perigos a que se expõem no tocante à salvação das próprias almas, porque existe uma advertência no evangelho de Mateus:
Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu...” (evangelho de Mateus, capítulo 5 - versículo 19).

E falando em mandamentos vejamos o que está, bem claro, no decálogo:
“Não Matarás” (livro do Êxodo, capítulo 20 - versículo13).

Podemos deduzir que aqueles que ensinam outros a matar (abortar é matar), nas palavras de Jesus, estão excluídos dentre os seus eleitos. No mesmo evangelho de Mateus existe outra advertência bem mais severa àqueles que, ensinando a santa Palavra, e até fazendo milagres em nome de Jesus e expulsando demônios, levam vida contrária ao que pregam. Vejamos o que está escrito:

Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?’ Então eu vou declarar a eles: jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!” (evangelho de Mateus, capítulo 7 – versículos 21 a 23).

É desolador uma pessoa conhecida publicamente como pregadora de Jesus Cristo, liderando grande contingente de pessoas, apresentar-se completamente equivocada, demonstrando-se despreparada (ou muito bem preparada!) a ponto de permitir a publicação das palavras aqui tratadas como sendo suas. Assertivas como essas do pregador do evangelho, autorizam divagações a respeito dos motivos pelos quais ele que, queiramos ou não, tem o poder de influenciar uma multidão de pessoas, toma atitudes como essa.
O que esconderiam tais palavras?
À luz da razão, não é possível aceitar que alguém estudioso da Sagrada Escritura, doutor em teologia (como consta em sua biografia), comandando um batalhão de pregadores do evangelho possa apresentar-se tão sem entendimento da Palavra de Deus a ponto de contradizê-la.
Certamente outros cristãos considerarão não valer a pena dar importância a coisas tão pequenas e de pouco significado. Mas eu penso em tantas pessoas que reputam como verdadeiras as palavras equivocadas do líder. Por isso eu busco ficar em paz com a minha consciência, alertando sobre os perigos de cair em desgraça diante de Deus por não criticar o que ouvimos (ou lemos).
Fazendo presente a idéia de que estamos tratando tão somente das idéias manifestadas pelo personagem de quem estamos tratando, publicadas no livro – nunca de sua pessoa –, devo dizer que o aborto em nosso país ainda é crime. Na legislação vigente são raras as situações em que é admitido, no máximo umas duas ou três. Mesmo as pessoas indiferentes às coisas espirituais, que não praticam religião alguma – a maioria da sociedade civil – rechaçam o aborto. Projetos de lei no Congresso Nacional estão engavetados exatamente porque as pesquisas de opinião têm demonstrado que a maioria esmagadora dos brasileiros – cerca de mais de oitenta por cento – não admite sua legalização.
Tendo ciência do que está escrito no livro que analisamos, é fácil perceber quem são boa parte dos vinte por cento favoráveis ou indiferentes ao crime que podemos (e devemos) classificar como hediondo.
Para os cristãos isso é motivo de tristeza.

V - PRISÃO INJUSTA?
Prosseguindo a leitura deparamos com um obstáculo ao desejo de tratar tão somente das idéias e opiniões do nosso personagem publicadas no livro que analisamos. Isso porque as páginas 17 a 50, portanto 33 páginas (cerca de 12% do livro), tratam da prisão sofrida por ele em 1992. De sorte que não podemos desprezar parte tão extensa da obra.
Ficou evidente a preocupação em desvirtuar os verdadeiros motivos da prisão, de maneira que ela é atribuída a arbitrariedades da Justiça, a perseguições religiosas e a pressões de grupos empresariais da área de comunicação incomodados com a aquisição de sua rede de televisão.
Presunçosamente usou-se o argumento de que ele foi detido para amenizar o impacto produzido sobre a opinião pública pela CPI do Congresso Nacional que investigava os desmandos do então presidente da República. De acordo com esse argumento, se o foco do noticiário recaísse sobre outro escândalo, o presidente teria mais sossego para tentar impedir a cassação do mandato.
Tempos atrás Luis Fernando Veríssimo criou uma personagem, crédula ao extremo, chamada de “A Velhinha de Taubaté”. Ela confiava piamente nas autoridades do país – os generais do regime militar. Se eu estiver equivocado, que me corrijam aqueles que conhecem mais a respeito.
Evidentemente eu não sou a Velhinha de Taubaté, mas acredito no meu país, apesar de tudo o que tem acontecido no âmbito da política. Mais ainda, confio no Poder Judiciário, na honestidade dos juizes, salvo raras exceções; no Ministério Público; nas policias Federal, Militar e Civil, como instituições. Evidentemente existem desvios de conduta, mas são casos individuais, de pessoas que, na maioria das vezes, abusam da “autoridade” ou caem na tentação do suborno.
A liberdade do ser humano é um dos direitos mais sagrados, e ninguém pode ser preso sem ter cometido crime. Por isso estou convencido de que aquela prisão não foi um ato arbitrário – a busca de um bode expiatório ou boi de piranha – para abafar os escândalos políticos da época. Muito menos perseguição religiosa ou disputa pelo mercado de comunicação. É difícil aceitar que tantas autoridades tenham se equivocado. Obviamente houve investigações, havia um processo tramitando na Justiça e ele deve ter tido oportunidade de defesa. Se a conclusão foi a de que era necessária a detenção, ela foi determinada e cumprida.
Também acho descabida a alegação de “show de pirotecnia” defendida por ele ao referir-se à forma como foi detido. A polícia deve ter considerado aquela a melhor forma, face às peculiaridades do caso. Acredito que a reação do público seria a mesma, quer a detenção fosse realizada na rua, na igreja ou em sua residência. Afinal, o detido era pessoa conhecida publicamente, pois quase todos os dias estava na TV.
É improvável que ocorressem as reações que agora ele descreve como possíveis caso a detenção tivesse ocorrido na igreja, na hora do culto. O povo brasileiro, inclusive os freqüentadores daquela igreja, é ordeiro e pacífico, e, na imensa maioria, obedecem às leis e às autoridades constituídas, o que é de se esperar de uma nação que vive num regime pretensamente democrático.
Segundo as palavras do próprio biografado, na página 26, uma das acusações era a prática de charlatanismo. É provável que exatamente aí estivesse o principal motivo da pendenga judicial.
No dicionário da língua portuguesa, uma das definições para charlatão é aquele que explora a boa-fé do público. Por isso, a meu ver, havia fundamentação para essa acusação. Basta atentar para as práticas amplamente conhecidas daquela igreja.
Acredito que todos os brasileiros já assistiram, alguma vez, em seus programas de rádio ou televisão, um testemunho parecido com este:

“A minha vida era muito difícil. Eu e minha família não tínhamos casa, nem emprego, nem alimento, nem estudo, nem meios de transporte. Meus filhos eram drogados, meu esposo vivia embriagado, não me amava e nós brigávamos muito. A vida era um inferno. Eu procurei ajuda nos terreiros de umbanda, saravá, espiritismo, igreja católica, e as coisas só pioraram. Até que um dia, passando pela rua, sem querer, encontrei a igreja (...). Entrei lá, fui muito bem acolhida e me senti muito bem. Passei a freqüentar os cultos, as sessões do descarrego, a fogueira santa de Israel. Meu esposo e nossos filhos também passaram a freqüentar os cultos e a vida mudou completamente. Hoje somos muito felizes, meus filhos não se drogam mais, meu esposo não bebe mais, me ama muito e somos felizes no casamento.
Quando fazia três meses que estávamos na igreja, compramos nosso primeiro carro. Hoje temos três carros importados, cinco casas com piscina, duas casas na praia, vinte apartamentos, duas chácaras de lazer, somos donos de três empresas que exportam para o mundo todo, os negócios vão muito bem, meu esposo me ama.
Hoje minha vida é uma maravilha!”.

Eu já assisti a muitos desses “testemunhos” enriquecidos com dramatização, produção de pequenas novelas, com o intuito de gravar bem na mente das pessoas a mensagem que se quer passar. E, mais recentemente, tenho ouvido no rádio eles dizendo que participaram do altar do sacrifício – condição indispensável para obter as graças – onde fazem ofertas de envelopes, cujo conteúdo, embora não revelado, levam a crer que seja dinheiro.
Mas essas pessoas parecem não existir na vida real. Eu realizei pesquisas e não encontrei nenhum membro daquela igreja com esse perfil. Bem ao contrário, encontrei pessoas lutadoras, que batalham arduamente para sobrevier, como qualquer cidadão. Posso até citar o exemplo de um ex-cunhado meu que entrou para aquela igreja há mais de vinte anos (é quase um membro fundador) que continua sendo zelador de condomínio residencial em Curitiba, exatamente como quando começou. É um homem honesto e trabalhador, mas continua tão pobre quanto era antes de entrar para a igreja. E assim são todos os que eu conheço.
É importante salientar que pobreza material não constitui defeito. Ela não é mais que um estado de vida que precisa ser revertido, e contra a qual todos devemos lutar.
Mas eu continuo esperando conhecer pelo menos uma dessas pessoas que vivesse exatamente o que dizem nesses testemunhos.
Se charlatão, dentre outros delitos, é o explorador da boa fé do público; e, se charlatanismo é crime, temos o direito de pensar que houve e ainda há crime. E torna-se necessário averiguar mais profundamente o que vemos na televisão e ouvimos no rádio.
Nas vidas daquelas pessoas aconteceu realmente o que elas dizem? Ou são atores e atrizes contratados para fazer propaganda? Ou são membros do grupo dirigente da igreja relatando experiências que os simples fiéis jamais conseguirão realizar?
Ainda que uma só delas fosse encontrada vivendo na realidade o que dizem no rádio e na televisão, não seria obra de Deus. Simplesmente porque Ele não age dessa forma.
É dolorosa a apresentação de Jesus Cristo como um mercenário, um deus que só tem o poder de retribuir os valores doados como dízimo ou ofertas na igreja – o que se vê nas pregações transmitidas pela televisão e pelo rádio; um deus que só tem olhos para os abastados de dinheiro, os afortunados, excludente dos pobres e pequeninos. Esse não é o verdadeiro Jesus. O Jesus real é aquele que diz frases como estas:
Eu te bendigo, Pai, porque escondestes essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pobres e pequeninos”. “É muito difícil um rico entrar no Reino do Céu. É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Céu”.
Certamente, alguém, indo além na leitura, dirá: aos homens isso é difícil, mas a Deus tudo é possível”.Só que aquelas palavras de Jesus são claras... E, diga-se de passagem, Ele próprio sendo Criador e “dono” de tudo o que existe no Universo, nasceu pobre como um mendigo, viveu pobre no meio dos pobres, e sempre se detinha em entreveros com os representantes da elite do seu povo. Ele nunca abandonou a predileção pelos pobres e desvalidos, aqueles que não tinham nem voz, nem vez na sociedade judaica da época.
 

                                                        ( ... )
 

XXI - O JULGAMENTO FINAL

“Não julgueis, e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem”. (evangelho de Mateus, capítulo 7 – versículos 1 e 2).

Acredito não ser exagero imaginar que muitos leitores ao tomar conhecimento deste trabalho o encarem como um julgamento que fizemos da pessoa do biografado, contrariando o ensinamento do texto do evangelho de Mateus acima.
Mas entendemos que o julgamento a que Jesus se refere é aquela opinião preconceituosa que muitos têm de outrem, sem nenhum conhecimento de fatos.
Durante todo este trabalho, por mais difícil que fosse, procurei ater-me ao que está contido na obra analisada. Se as opiniões e as palavras estão ali expostas, certamente elas provocam reações. E é bom que seja assim. Isso valoriza a obra, já que não permitiu a indiferença entre leitores como eu.
O contrário seria frustrante para os envolvidos em sua realização.
Todos os leitores de seu livro, acredito, sentiram-se questionados, positiva ou negativamente. E muitos, creio, manifestaram suas opiniões às pessoas de sua convivência.
Eu apenas fui mais longe.
São fatos perturbadores o que está no livro, considerando-se que se trata de um cristão aquele que realiza tudo o que se divulgou.
Mais perturbador ainda é o que estamos todos vendo acontecer: um cristão pregador da Palavra de Deus administrando ao mesmo tempo uma organização religiosa e uma empresa de comunicação de programação inteiramente secular. Isso só já seria de espantar.
E como se isso não bastasse, a empresa de comunicação apresenta uma programação tão profana do ponto de vista cristão, ou até pior que as de suas concorrentes, numa verdadeira afronta a tudo que o cristianismo ensina.
Se alguma diferença existe, é para pior, vez que as outras emissoras nunca foram tão longe na permissividade que se dão, já que a censura externa – corretamente – não existe em nosso país.
Então, a situação com que nos deparamos é que o nosso personagem, moralmente, encontra-se numa encruzilhada; e pode escolher para que lado seguir. Ele poderá escolher entre trilhar autenticamente os caminhos da missão religiosa, desvinculando completamente o seu nome das empresas de comunicação; ou, então, abandonar por completo o púlpito e dedicar-se inteiramente ao mundo das comunicações.


Como uma terceira opção ele poderia transformar a programação de sua TV para algo mais decente, condizente com sua condição de cristão pregador da Santa Palavra. Isso é verdadeiramente possível.
Bastaria que afastasse os desavergonhados apelos à sensualidade, ao erotismo e aos vampiros mutantes das novelas; mudasse as pautas dos telejornais para o lado positivo dos acontecimentos; transformasse os programas humorísticos, suprimindo os apelos às baixarias das piadas e cenas picantes, afim de que toda a família pudesse se divertir sadiamente; enfim, que abandonasse os apelos à audiência através de reportagens especiais que fizessem apologia à pornografia.
É possível ser diferente? É. Um cristão pode ser proprietário de um canal de televisão comercial? Pode, desde que continue a ser cristão no verdadeiro sentido da palavra.
Isso implicaria em mudanças radicais. E poderia até acontecer de os pontos no Ibope aumentarem, já que o público estaria vendo algo diferente das mesmices dos programas televisivos.
Haveria resistências entre os profissionais que prestam serviços à empresa? Certamente. Mas esses mesmos profissionais já torceram o nariz quando um “crente” adquiriu o controle acionário da organização. Nem assim ela deixou de existir.
Então seria só tentar.
Porque se continuar do jeito que está, mesmo que nosso personagem passe ileso pelo julgamento dos homens, certamente terá que prestar contas Àquele a quem diz servir quando está em sua igreja.
E Ele é reto e justo em seus julgamentos.




















Seguidores

Quem sou eu

Minha foto
Maringá, Paraná, Brazil
Um homem em busca de aprendizado nas mais diversas áreas do conhecimento humano.

Minha lista de blogs

Powered By Blogger